
O Rio Grande do Sul sempre teve algumas características muito próprias. É um Estado que vive no limite do Brasil, no limite da América Latina e numa região de fronteira. Na sua origem, foi u
ma região muito disputada por espanhóis e portugueses. Aparentemente é o Estado que menos se parece com o Brasil. Temos essa identidade muito particular que tem algumas coisas interessantes como o jeito de falar, o uso do “tu”, uma seriedade e um certo sentimento trágico causado talvez pelas várias guerras que tivemos. Por outro lado tem algumas coisas muito ruins. Em termos culturais, por exemplo, somos muito isolados do Brasil e de coisas muito boas que o país tem. O Brasil tem uma cultura riquíssima. Basta pensar na música brasileira, nas artes plásticas, na literatura. E o Rio Grande do Sul é meio auto-suficiente.Existe a ideia do “é melhor porque é nosso”, desse sentimento de orgulho que se manifesta até em propaganda de cerveja, de algo que é bom e que não pode sair daqui. Como se qualquer coisa que saísse daqui deixasse de ser nossa.
Tem uma música que só toca aqui, uma literatura que só sê lê aqui, um cinema bastante regional. Essa ideia de ficar louvando uma coisa porque é tua é algo que muitas vezes chega às raias do ridículo, como a prática de cantar o hino gaúcho antes de cada jogo de futebol. É um negócio bizarro. Caetano Veloso diz uma coisa engraçada sobre isso. Segundo ele, o gaúcho é a única pessoa no Brasil que se apresenta dizendo que é gaúcho, como se isso fosse uma vantagem. Ninguém se apresenta dizendo que é de Goiás, ou do Mato Grosso. E se tu fala disso logo vem alguém para te acusar de não gostar do Rio Grande.
| Exemplo do que estamos falando... |
Comemora-se todo ano a data de uma guerra que perdemos. É estranho. Ao mesmo tempo, temos coisas que dão orgulho mesmo, como, por exemplo, ser o Estado com o maior índice de leitores do país. Porto Alegre foi e creio que ainda é a cidade com mais salas de cinema por habitante. Temos uma qualidade de vida acima da média. Tudo isso é bom, mas o isolamento não faz sentido. É claro que é preciso preservar e divulgar aspectos da cultura local, mas a integração é hoje uma coisa quase que óbvia. O mundo está todo interligado. Qual é o sentido, então, de falar de um cinema ou de uma literatura gaúcha?
Texto retirado de uma entrevista de Jorge Furtado...
Estátua de Sepé Tiaraju